domingo, 24 de junho de 2012

Breve historia sobre o surgimento do graffiti


Por: Brisa Drumond

Resumo: O graffiti existe desde os primórdios da humanidade, surge antes mesmo da escrita, com a necessidade de expressão. Nessa breve história sobre o surgimento do graffiti, relatamos seu aparecimento em Paris, New York e São Paulo.

Palavras chave: Graffiti, expressão, história, Paris, New York, São Paulo.



O grafite existe desde os primórdios da humanidade, com a necessidade de expressão e cultos da vida cotidiana. As primeiras imagens pintadas à mão nas paredes das cavernas, simplificadas e primitivas, narravam entre outros, o êxito da caçada e a importância do animal abatido para a sobrevivência da tribo, sendo as primeiras representações do que viria a ser escrita e a arte.
Derivado da palavra italiana sgraffito, a origem da palavra se deu no Império Romano, para denominar as inscrições feitas nas paredes. O grafite, como se entende hoje, é considerado uma forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais,  mais especificamente, da street art ou arte urbana.
Essa arte de rua se faz em forma de inscrições caligrafadas ou desenhos pintados ou gravados sobre suportes que normalmente não são previstos para esta finalidade.  O artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Embora a língua inglesa use o termo graffiti para ambas as expressões, no Brasil distinguem essa prática desdobrando-a entre o grafite, e a pichação.
Normalmente distingue-se o grafite, de elaboração mais complexa, da simples pichação, esta ultima quase sempre considerada como marginalizada. A pichação predomina nas capitais, é o ato de escrever ou rabiscar sobre muros, fachadas de edificações, asfalto de ruas ou monumentos. No geral, são escritas frases de protesto ou insulto, assinaturas pessoais ou mesmo declarações de amor. Alem disso a pichação também é utilizada como forma de demarcação de territórios entre grupos, às vezes gangues rivais. Por isso difere-se do grafite, uma outra forma de inscrição ou desenho. Este ainda quando explorada em galerias ou encomendas por particulares, como forma de ambientação ganha o nome de muralismo.
Entretanto ciente da hibridez dessas linguagens, sabe-se que todo o grafite tem um pouco de muralismo e de pichação. A palavra graffiti, será então usada como uma forma mais ampla para todas as manifestações do gênero.
Embora tenham na sociedade compreensões e aceitações divergentes, grafite e pichação se confundem em sua história, pois nascem com a mesma essência de livre expressão, com uma natureza de transgressão e deboche.
Na Paris de 1968, surgiram as primeiras manifestações do graffiti moderno, a partir de um movimento de opressão política que resultou em rebeliões de rua. Conforme afirma Célia Antonacci, autora de “Grafite, Pichação & Cia”, foram registradas em muros palavras de ordem: “La liberté c’est e crime qui contient tous lês crimes”, ou de protesto “La Bourgeoisie n’a pás d’autre plasir que celui de lês dégrader tous”. Foi a partir desse despertar parisiense que as pessoas perceberam a possibilidade de registrar mensagens livres, descompromissadas, anônimas e gratuitas.
Mas foi em New York, no final da década de 1970, com sua configuração singular na qual se encontravam, lado a lado, as ruas sujas do Harlem e o ambiente glamouroso da Broadway. Reunindo diferentes culturas e problemas sociais em um mesmo lugar. Ganharam vida nas paredes dos guetos e muros da periferia, essa expressão gráfica que contaminou o mundo.
Essa rebelião inicial consistia em dizer: “Eu existo, eu sou o tal, eu habito esta ou aquela rua, eu vivo aqui e agora”. (Baudrillard, 1979, p.37). Seu conteúdo era formado de tags que se consiste em escritos curtos e rápidos, são apenas nomes e sobrenomes, ou talvez pseudônimos e endereços. Essas tags ficavam cada vez maiores e unidas com desenhos, muitas vezes retirados de historias em quadrinhos, tomam a cidade desenhadas nos trens dos metrôs. Em meados dos anos 1980, afirma-se, não haver um único trem em New York que não tivesse sido pintado com sprays, de cima a baixo, pelo menos uma vez, antes de serem limpos pelas autoridades.    
Segundo a autora Célia Antonacci, esses graffitis surpreenderam a população, afugentavam os turistas e foram combatidos pela polícia, e conduziam alguns de seus autores à cadeia, enquanto outros eram conduzidos às mais importantes galerias, bienais e museus de arte, não só nos Estados Unidos como do mundo todo.
Nesta mesma época o graffiti se espalha na Europa nas principais cidades e recebe influência também do movimento punk. Londres, Amsterdam, Madri são tomadas e ate o muro de Berlim , com 4,5m de altura por 166km de extensão, símbolo do autoritarismo, foi preenchido por centenas ou milhares de imagens ao longo, de aproximadamente, cinco anos, antes de vir abaixo e de ter seus pedaços comercializados.
O Brasil tem São Paulo como à capital do seu graffiti. Por volta de 1976, lia-se nos muros da cidade a inscrição: cão fila. Anônima e insistente, essa inscrição provocou a curiosidade de todos. Até ser desvendado seu significado: se tratava de uma nova raça de cachorro. Pouco depois uma enorme quantidade de poemas dialogavam com a cidade, e procuravam espaço em uma sociedade pós-ditadura. 

Segundo Décio Pignatari:

“... a novidade estaria assim: Paris, maio de 68, FILÓSOFOS (sic.), e, NY, 60 a 70, ARTISTAS VISUAIS (sic.), e no Brasil, São Paulo particularmente, POETAS (sic.), e essa é a sua grande originalidade, pois a massa iniciativa aqui, foi comandada por poetas.” (apud Fonseca, s/d: 41)

A idéia modernista de dessacralização da arte e do rompimento dos limites entre cultura erudita e popular, radicada com a Pop Arte nos anos 50 e 60, atingiu uma forma radical com o graffiti. De baixo custo e acessível a qualquer um com coragem para enfrentar a falta de compreensão inicial, o graffiti possibilitou uma nova percepção da arte. Com ele a arte foi realmente para a rua e interagiu com o espaço público e a dinâmica da vida urbana. Ela não estava mais restrita ao privado, a galeria e museus. E assim o graffiti e suas mais diversas representações estéticas tomam as principais cidades do mundo.
O estilo de cada artista de rua é desenvolvido sem nenhuma restrição, com a utilização de ferramentas que vão muito alem das latas de spray, um ícone do movimento. É comum o uso de stickers (adesivos), pôsteres, estênceis, aerógrafos, pastéis oleosos, todas as variedades de tintas e até mesmo de esculturas. Surge também o light graffiti ou grafite de luz, feita com o uso de luzes e fotografia de exposição prolongada.
Os desenhos e escrituras com proporções distorcidas exploram a noção do irreal, dos sonhos e do imaginário coletivo. Os graffiti são signos a serem lidos, presentes nos muros das metrópoles fazem parte da vida do homem moderno.
As primeiras manifestações artísticas do século XX caracterizam-se pela ruptura com o passado e pelo intuito de chocar a opinião pública, pregando idéias radicalmente novas. Os movimentos de vanguarda européia influenciaram de forma incontestável no surgimento do Modernismo brasileiro, que por sua vez, vão todas juntas, misturar e influenciar a arte de rua.
No livro “Na rua: pós-grafite, moda e vestígios”, as organizadoras Cássia Macieira e Julia Pontes, discutem, o significado e a percepção destes vestígios urbanos na cidade de Belo Horizonte.  Fazem uma analogia da cidade com o corpo, essas inscrições aparecem na pele da atmosfera urbana, assim como cicatrizes ao longo de uma vida.
Ainda, segundo Rüthschilling em seu livro “Design de Superfície”, as superfícies são elementos delimitadores das formas. Estão em toda parte e sempre foram receptáculo para expressão humana. São entendidas como um elemento passível de ser projetado, do qual seu comprimento e largura são medidas significantemente superiores à espessura, apresentando resistência física suficiente para lhe conferir existência. É na superfície das cidades que o grafite encontra seu suporte.

“O design de superfície é uma atividade criativa e técnica que se ocupa com a criação e desenvolvimento de qualidades estéticas, funcionais e estruturais, projetadas especificamente para constituição e/ou tratamentos de superfícies, adequadas ao contexto sócio- cultural e às diferentes necessidades e processos produtivos.” (RUTHSCHILLING, 2008, p 24)



Bibliografia:

GANZ, Nicholas. O Mundo do Grafite: arte urbana dos cinco continentes. São Paulo: Livraria Martis Fontes Editora Ltda, 2010.  

ANTONACCI, Cecília. Grafite, pichação e Cia.





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